sábado, 6 de agosto de 2011

GUARDIÃO

Um conto de horror escrito por este que voz fala... Agradeço a minha querida Samila Lages por me fazer ter vontade de escrever... Obrigado Sam...


CÁPITULO I – RETORNO

Retorno a minha terra natal.
Após vinte anos, retorno ao lugar onde nasci e enterrei minha família. Onde nossa casa, antiga como as florestas escuras que cobrem a ilha Blood Mist jaz, tal qual uma lápide, que a inúmeras gerações viu sucumbir.
O barco cruza a baía de águas negras, quase vazio, apenas a tripulação e eu. Afinal, nada de bom existe no destino. Ainda distante, se pode ver a névoa, densa e fantasmagórica, que foge da ilha e cobre o mar, assim como uma mortalha.
Quando a silhueta da ilha se mostra, o barco pára, um pequeno escaler é baixado e o capitão vem até mim, um homem já passando dos seus cinqüenta anos, de barba bem feita, vestindo um casaco velho manchado, carregando uma pistola antiga na cintura, com uma expressão de tristeza, meio que envergonhado de si mesmo:
- Sinto rapaz, mas não podemos chegar mais perto, não há porto nessa ilha. E a minha tripulação, não está feliz com a viagem. Essa ilha é maldita, rapaz. Pense melhor, volte conosco.
Eu olho fundo nos olhos do velho e sorrio. Agradeço a preocupação e digo que preciso estar naquela ilha. Coisa de família.
A expressão do capitão muda. Seus olhos se arregalam, sua face fica pálida e sua mão procura o cabo de sua pistola de forma nervosa:
- Como assim rapaz? Qual é teu nome? O que queres aqui? Fale!
Sem entender o porquê dessa atitude, minto para o velho. Digo que sou advogado e que trabalho para uma empresa madeireira que pretende comprar a ilha. A expressão do velho novamente muda. Dessa vez para um sorriso zombeteiro, sua mão larga o cabo da pistola:
- Comprar essa ilha? Sua madeireira deve ser controlada por idiotas. Nada dará certo nesse lugar. Deixe de lado essa tolice e volte conosco.
Digo que não poderei e agradeço pela preocupação. O capitão então coloca sua mão no bolso de sua jaqueta e puxa um rosário. Ele o estende em minha direção:
- Tome rapaz. Isso vai te proteger.
Agradeço novamente ao capitão, mas recuso o presente. A cena toda me lembra o livro de Bran Stocker, quando Hacker chega à Transilvânia, isso faz com que um sorriso me escape:
- Não ache graça rapaz! Essa ilha é maldita e você deveria aceitar a proteção de Deus.
Peço desculpas ao capitão e me apresso para descer até o escaler.
Cada remada parece levar uma eternidade, minha vida anti-social e sedentária, está cobrando o seu preço. Meus cento e quarenta quilos doem a cada movimento que faço no barco. Levo uma hora para chegar até a praia. Piso nos seixos que cobrem as margens exausto. A névoa parece mais densa do que antes. Não há vento ou barulho de animais. Sinto-me oprimido, uma sensação de pavor infantil começa a me tomar. Cogito se devo voltar ao escaler e tentar alcançar o barco, me viro para o mar e vejo o barco flutuando distante da praia.
Agora não há mais o que fazer. Apenas a trilha pela floresta. A mesma trilha que me enchia de medo quando criança. A mesma trilha que me enche de medo agora.

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