terça-feira, 9 de agosto de 2011

GUARDIÃO


Cápitulo novo... Comentem... Please...


CÁPITULO III – AVÔ

Acordo sobre a mesa. Estou nu.
Vejo-me dentro da cozinha da velha casa de minha família. Minhas roupas estão jogadas no chão, se parecem mais com panos de chão do que com roupas.
Sento-me na mesa. Confuso olho ao redor. O fogão está acesso. Uma chaleira chia sobre o fogo, liberando um cheiro doce. Chá de canela.
Nada parece diferente da minha infância, exceto por minha família, que há muito se foi.
Absorto em minhas memórias, não percebo a figura que se aproxima de mim. Um velho, carrancudo, baixo, de olhos cruéis e sorriso malicioso. Surpreso, encaro meu avô. Deixo escapar um gemido de assombro. Um sorriso mau se faz no rosto do velho:
- Mas vejam só. O meu netinho está crescido e bem... Bem mole e inútil!
Encolho-me de vergonha. Meus olhos procuram o chão. O velho enche uma caneca com o chá quente e a estende em minha direção:
- Bebe isso. Irá ajudar a fechar as tuas feridas.
A caneca queima minhas mãos, o líquido fere minha garganta. Mas tomo tudo, até o último gole.
Pergunto onde está minha mochila a meu avô, peço a ele que me mostre onde posso me trocar. Sinto frio.
Novamente um sorriso mau se faz na face má e velha:
- Mochila? Tu apenas trouxeste esses trapos aí do chão, contigo. Mais nada.
Estranho a falta da mochila, mas não insisto. Pergunto se há alguma roupa que eu possa vestir. Os dentes velhos e podres bailam em novo sorriso. Uma gargalhada sinistra e cruel escapa dos lábios finos e ressequidos. Encolho-me novamente. Como uma criança, eu permaneço sentado sobre a mesa. Meus olhos sempre procurando o chão:
- Não tenho roupas para baleias aqui comigo, meu netinho. Mas podemos dar um jeito. Há sempre uma saca de farinha ou batatas jogada por um canto. Não é mesmo?
O velho sai da cozinha por uma porta lateral. Ele volta com alguns sacos de farinha de trigo. Abre uma gaveta do armário de pratos e retira de lá, uma tesoura, barbante e uma agulha grande e grossa.
Atônito ante a situação vejo meu avô, abrir três buracos em uma saca, tal qual uma camiseta. Ele corta outra saca e a costura como uma calça.
Todo o processo não leva mais que meia hora. Ao final, ele me joga no rosto, a roupa tosca que costurou:
- Veste.
Visto a calça e a camiseta, o tecido grosso, arranha minha pele já muito ferida pela corrida da última noite. Não entendo por que obedeço meu avô com tanta presteza. Algo em sua voz, profunda, cruel e rouca, parece me dominar. Cheio de vergonha de mim mesmo, me vejo com medo de um velho.
Guardando tudo novamente na gaveta, meu avô olha pela janela, seus olhos ficam sombrios:
- Você atraiu muita atenção, rapaz. A fogueira terá que ser bem grande esta noite.
O velho vai até um canto da cozinha e pega um machado velho. O cabo é de uma madeira escura, polida pelas mãos de vários homens de minha família, a lâmina é grande e pesada, negra como carvão. Parece ser bem pesado, mas o velho o joga sobre mim com facilidade. Espantado eu o agarro no ar:
- Vá até lá atrás e busque lenha. Empilhe tudo na frente da casa. Faça isso antes de anoitecer.
Digo que me sinto mal, cheio de dores, que gostaria de descansar. Meu avô me olha de forma ameaçadora, anda até minha direção e entre dentes vocifera:
- Faz o que te mando filho da puta gordo! Anda que já é tarde, só temos três horas de luz.
Com ódio de mim mesmo, obedeço ao velho, o mesmo que durante o acesso de loucura de meu pai, não estava lá para nos ajudar. Que não quis minha tutela quando criança, que nunca me procurou para nada, que me deixou só no mundo.
Vou até o quintal, um lugar mais parecido com uma madeireira abandonada. Pilhas de madeira velha o bolorenta se espalham até encontrarem a floresta.
Escolho um monte de toras e começo o trabalho.
Cada golpe do machado faz com que meu corpo doa e arda. Cada golpe é cheio de raiva e mágoa. Cada lasca que voa contra meu rosto, faz com que eu tenha mais raiva de mim.
Afinal, por que decidi aceitar vir para cá? Por que fui ler aquela maldita carta? Por que estou neste momento fazendo o que aquele velho maldito quer?
Com esses pensamentos povoando minha cabeça, golpeio a madeira com mais e mais força.
Após uma hora, termino de cortar a madeira. Fico banhado em suor. Sinto dores horríveis.
Carrego a madeira até o pátio da frente.
Termino a tarefa com a noite começando. A névoa parece ficar mais densa na floresta.
Uma sensação ruim toma conta de mim. Caminho até o quintal para buscar o machado.
Ao chegar ao quintal, vejo algo vindo da floresta. Um vulto baixo, da altura de uma criança.
Um medo infantil me domina. Corro até o machado.
A coisa dispara em minha direção. Vejo olhos brilhantes se aproximando.
Agarro o machado e por puro terror, golpeio.
Acerto apenas o ar.
A coisa salta por sobre o golpe, caindo sobre meu corpo.
O terror me domina.


Um comentário:

  1. Oi amor, desculpa a demora para vir, mas estou aqui! Muito boa essa história. Você fez uma ótima escolha de palavras, e muito embora precisse de uma pequena revisão em alguns aspectos, no geral o clima ficou excelente - essa sensão de temer o desconhecido me faz pensar em lovecraft *-*
    Você não nega mesmo essa influência! Parabéns, meu amor! quando postar mais me avisa, ok??

    ps: cadê o post da matita pereira?
    ps2: Veio fidaputa

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